Volta ao mundo em cinco anos

4.3.20
Quando o T nasceu foi como se eu tivesse feito uma viagem de 360º, uma viagem daquelas que nos marcam e que nos transformam de tal forma que a nossa vida muda por completo.

A sensação é como se tivéssemos planeado uma vida inteira, uma viagem de sonho, desejada e preparada ao pormenor e já entre as nuvens, somos informados que o avião mudou de rota pelos imprevistos climatéricos e a assim a viagem tão esperada cai por terra.

No início, ficamos desiludidos, depois choramos e até ficamos revoltados pelos nossos sonhos terem ficado naquelas nuvens altas mas depois cabe a nós limpar essas mesmas lágrimas que tanto nos deixaram tristes para tornarmos a viagem que saiu fora dos planos inesquecível.

Esta é a minha história de vida. Foi assim que tudo começou... foi num azar de cromossomas a mais que vi a felicidade no seu expoente máximo.

Existe uma história, que conta de forma "lúdica" o que é isto das viagens, dos sonhos e de uma vida que tem tudo para dar errado para se tornar a melhor de todas, não é de minha autoria, foi dos primeiros textos que li quando recebi a notícia.

"Quando vamos ter um bebé é como planear uma fabulosa viagem – a Itália. Compra-se logo uma boa quantidade de livros de viagem e fazem-se planos maravilhosos: o Coliseu, o Miguel Ângelo, as gôndolas em Veneza, e até se pode aprender algumas frases úteis em italiano. É tudo muito excitante.

Depois de meses de expetativa, chega finalmente o dia. Fazem-se as malas e lá se vai para o aeroporto, horas mais tarde o avião aterra e a hospedeira chega perto e anuncia: - Bem-vindos à Holanda.

-Holanda? Pergunta você, - O que é isso de Holanda? O meu voo era para a Itália, eu deveria estar em Itália, toda a minha vida sonhei ir a Itália. Mas houve uma mudança de voo e o avião aterrou na Holanda e tem que ficar ali.

O mais importante é que eles não a levaram para um lugar horrível, desagradável e sujo, cheio de pestilência, fome e doenças. É só um lugar diferente. Vai precisar de aprender uma linguagem completamente nova, e conhecer um novo grupo de pessoas que nunca teria encontrado.

É só um lugar diferente, com um ritmo de vida mais lento do que a Itália, menos buliçoso e aparatoso, mas depois de lá permanecer mais um bocado de tempo, logo que tenha passado a agitação, vai olhar em seu redor e começa a dar-se conta que a Holanda tem moinhos de vento, tem as túlipas, e que a Holanda até tem os Rembrandts.

Mas todas as pessoas que conhece vão e vêm de Itália e todas se gabam das maravilhosas férias que lá passaram, e para o resto da sua vida vai pensar “Sim, era ali para onde devia ter ido. Era isso que eu tinha planeado.”

E essa dor nunca, nunca, nunca mais passará porque a perda desse sonho é uma perda muito significativa.

Mas… se passar a vida a lamentar-se com o facto de não ter ido a Itália, nunca mais terá o espírito livre para desfrutar as coisas especiais, as coisas maravilhosas da Holanda."

Há cinco anos quando partilhei esta história com o B, a sua resposta foi, "a nossa sorte é que vamos a Italia para o ano.. e assim aproveitamos o melhor de Italia e Holanda".

E assim foi, passado um fomos finalmente à Itália e ainda conseguimos ir às Maldivas!

Ganhamos o mundo em cinco anos!


2 comentários:

  1. Que texto maravilhoso!! Eu ainda estou na fase da chegada a Holanda... a adaptação está a ser muito difícil...a desilusão e a angústia de não ter ido novamente a a Itália está a dar cabo de mim... obrigada por este ponto vista. Beijinhos para todos. ❤

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  2. Olá Andreia, obrigada por este ponto de vista tão bonito. Eu ainda estou na fase da chegada a Holanda. Está a ser muito difícil aceitar que não fui a Itália. Mas hei-de habituar-me porque isto cá é lindo! Beijinhos para todos. ❤

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