A palavra Deficiente

15.7.20
Numa conversa circunstancial entre mim e a Filipa (terapeuta do T) a palavra Deficiente ganhou posição e discutimos a palavra que aos meus olhos ainda tem uma conotação negativa.

Com vários significados e várias leituras mas que pouco me convence e me transmite paz interior.

E foi nesta base que a Filipa desafiou-me a falar sobre um assunto que até então nunca falei.

Ser-se deficiente.

A palavra que mais corrói uma mãe pois não existe mãe que goste de apelidar o seu filho de deficiente. É uma palavra forte e com uma conotação ainda muito negativa.

E se antes a usava de forma banal, hoje não existe no meu vocabulário.

A trissomia do Tomás é considerada uma deficiência e embora me considere bem resolvida com a condição do Tomás, a palavra deficiente ainda me causa desconforto.

Para mim deficiente é ser-se incapaz, é ser-se não válido. E para mim tem uma carga emocional muito pesada.

É quase como uma palavra tabu, que não quero ouvir e que se alguém me disser de animo leve, vai magoar-me bem lá no fundo.

Não é uma questão de aceitar ou não, é um questão muito mais além, não mensurável e que deita uma mãe a baixo por completo.

Afinal de contas quem quer ter um filho deficiente? 

No entanto tenho consciência que o T tem as suas limitações e que tem algumas condições especiais, no entanto está longe de ser deficiente.

Mesmo não adorando o termo, a palavra mais leve é "especial" mas mesmo assim não me faz sentido, porque não quero que o meu filho seja especial, quero que apenas seja o Tomás.

Parece que buscamos significados às coisas, quando não precisam. Claro que tem as suas condições especiais mas é só isto. De resto, é o Tomás, tal como o Francisco e a Maria Constança.

Tenho três filhos e aos meus olhos são todos diferentes e especiais. Nenhum deles é deficiente e mais especial que o outro.

O T tem trissomia, é uma verdade, mas não passa de uma característica sua, tal como os sinais que nascem connosco.

O mesmo se aplica ás mães especiais, todas as mães são especiais! Verdade que o especial, ao contrário do deficiente não tem conotação negativa, mas ninguém gosta de ser olhado de forma diferente. 

Especial pressupõe diferença e isso é o que não queremos!

Queremos apenas ser a mãe de... e não a mãe especial, tantas vezes olhada com pena.

Tecnicamente sei que os termos vão sendo alterados, evoluem e uns até caem em desuso, mas enquanto houver, por exemplo, sinalização de "lugares para deficientes", e não "lugares para pessoas com dificuldades desenvolvamentais (sejam motoras ou intelectuais)", sei também que o cientifico perde destaque quando olhamos para a questão de olhos fechados.

Não quero ver, recuso-me! O Tomás é apenas Tomás.


Calção de banho | Maria Saloia




8 comentários:

  1. Penso que o erro está na forma como as pessoas recebem e utilizam o termo. O Tomás é o Tomás!!! Não é deficientes, o Tomás é uma pessoa com uma deficiência. E os tipos e graus dessas deficiências/limitações variam. Ou seja se não olharmos como o deficiente, mas como a pessoa que é, neste caso o Tomás em que uma das suas características é ter uma cromossoma a mais, ou seja ter trisosnja 21. Como poderia ter óculos, cabelos loiros, castanhos.... São características, que sim estás pode elevar a exigência e as barreiras impostas ao Tomás.

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  2. Olá Andreia, infelizmente é assim que a sociedade os cataloga... Sou a sortuda mãe de uma jovem com paralisia cerebral! E apesar dela já ter 33 anos, ainda ninguém me conseguiu definir essa palavra pesada e dolorosa que a acompanha desde que nasceu. É verdade que há capacidades que ela não tem mas também é verdade que muitas das que ela tem que eu e muita gente não temos! Por isso, deixei de me ralar com a palavra e passei a usufruir de tudo o que ela é capaz, e sabe uma coisa? Sou muito mais feliz!
    Continue a fazer o melhor que pode e sabe e quando não souber peça ajuda a quem sabe, mas nunca, deixe cair os braços! O repto que a vida nos deu não tem fim à vista! Sinta-se importante! Porque realmente é! Um abracinho, gosto muito de si e dos seus! ♥️

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  3. Querida Andréia,
    Tenho dois tios com trissomia 21. Quando alguém comenta, ou olha com os olhos de “coitadinho é deficiente” eu costumo dizer que ambos são muito cientes do amor que vem mesmo do coração. Das carícias sem interesse e do abraço cheio de esperança. Da parte “def” costumo dizer que realmente tem o defeito de amar o mundo! Bom ou mau. Todos nós temos um pouco de “especiais” ou “deficientes” ou “autistas” ou “neuróticos”. Todos. Sem excepção. Porque nenhum de nós é perfeito. No entanto, o amor mais puro que até hoje conheci, veio da trissomia 21 e do tanto que aprendo com os meus tios.
    Um grande beijinho e seja sempre assim! Maravilhosa!

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  4. O Tomás é o Tomás com a sua alegria com a sua postura com o seu riso e com o seu amor. Deficientes somos todos uns mais do que outros, mas nem todos sabem dar o amor com a mesma inocência que o Tomas dá á sua Família.

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