A luta pela sua autonomia

8.7.20
Embora os tempos sejam modernos ainda existe muito a ideia que a Trissomia 21 é algo mau e cheio de limitações.

Que nunca vão ser autónomos e comportar-se com os padrões que a sociedade dita que são normais.

É quase como aquela ideia que se tem de pessoas incapazes, de fato de treino, obesas em casa, escondidas do mundo.

É certo que os tempos estão diferentes mas o passado de outros tempos nem sempre nos fazem ver um futuro diferente.

E foi aqui que se prendeu a minha principal preocupação. Com o Tomás seria diferente (pelo menos aos meus olhos). Seria uma criança e um adulto igual a tantos outros, com o seu ritmo mas com o seu lugar na sociedade.

Soube que não havia tempo para lamentações, o tempo era curto e tinha de ser eu a desbravar o caminho com toda a minha força. Não podia esperar pelos outros ou ter incertezas, tinha de ser eu a acreditar. Tinha de ser eu a ir em busca de respostas e de exemplos positivos.

Exigo muito dele, algumas vezes até demais e não sou benevolente com os seus erros por feitio. Tenho consciência que tem uma carga horária digna de um super herói. Mas também não me escondo, estou na frente, na primeira linha de mãos dadas com ele para o bem e para o mal.

E ainda está para vir a pessoa que duvidará das suas capacidades. Acho que nestes quase seis anos acreditei tanto na sua capacidade que não dou margem para as pessoas ao meu redor duvidarem.

Todas as terapias que invisto diariamente não são para que ele seja o melhor aluno da faculdade. O T será o que quiser ser da sua vida, desde que isso implique (sempre) ser feliz.

Elas servem para o preparar para o futuro, para antecipar possíveis limitações e para lhe abrir horizontes. 

Como mãe tenho algumas reticências com o seu crescimento, não pela sua trissomia, mas pelo facto de crescer e consequentemente deixar de ser o "meu" bebé. Não sou a melhor mãe a aceitar o crescimentos dos meus filhos.

Mas este meu medo não foi suficiente para me vencer e para lhe impor cuidados extra. Quero e faço todos os dias para que o Tomás tenha as mesmas oportunidades, sem entraves.

Quero que daqui a muitos anos olhe para este caminho e que veja um adolescente confiante em si mesmo, autónomo e com a sua independência.

Hoje o Tomás faz pequenos recados, anda pelo nosso condomínio sozinho (sob o nosso olhar atento), sobe e desce escadas sozinho. Já não preciso de o ir buscar a casa porque ele sabe sair e vir ao meu encontro e também não quer que o faça por ele.
Toma banho, come, vai à casa de banho, tudo sozinho. E demonstra verbalmente as suas vontades.

Veste-se como todas as crianças, tem uma vida social átiva e quando está com os seus pares, a olho nu ninguém percebe as diferenças, talvez porque de facto elas nunca existiram.

Aos poucos eu vou saído de cena e ele vai assumindo o comando da sua vida. E está tudo certo.

Não quero que ele me deva nada, quero apenas que ele sinta orgulho no seu percurso, que não tema as injustiças ou maus olhares porque isso haverá sempre, faz parte da vida.  Quero acima de tudo que seja feliz e um exemplo.















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