O tempo que se perde em nós

3.11.20

Quem me conhece sabe que é verdade, sempre fui daquelas mulheres que ambicionava casar e ter filhos. Quase como se fosse mote da minha vida. A carreira nunca foi prioridade. Não condeno quem opte pela carreira, pelo contrário. São opções de vida.

Mas a minha forma de estar na vida nunca privilegiou o trabalho à família. No entanto a minha vida ainda (e penso que nunca acontecerá) passará por estar exclusivamente dedicada à família.

Admiro quem tenha estrutura económica para o fazer e até chego a ter um pouco de inveja (boa) da vida "por casa" mas nem sempre a vida nos dá o que ambicionamos.

Não acho que ser só mãe ou estar só por casa tenha menos valor de quem assume um cargo importante numa empresa. São opções de vida, onde não existe o certo ou o errado. 

Com a quarentena que tivemos, acredito que o papel de mãe a 100% assumiu outra valorização na sociedade, pois quem fica a cuidar dos filhos trabalha tanto ou mais de quem sai todos os dias paro trabalho.

É um trabalho emocional e físico enorme, onde não se para cinco minutos para o "cafézinho". Nunca está tudo feito e há sempre alguém para cuidar ou ir buscar.

Com o confinamento, e porque tive estrutura para o fazer, abdiquei do meu trabalho por alguns meses só para cuidar da minha família e talvez tenha sido a fase em que me senti mais cansada, mais feliz e completa.

Foi muito bom enquanto durou! E todos os dias agradeci a oportunidade que a vida me tinha dado (mesmo que tenha sido pelas piores razões).

Foi bom! Tinha conseguido alcançado a felicidade em pleno e a tão proclamada qualidade de tempo com os meus filhos.

Entretanto voltei ao trabalho e este voltou a assumir destaque na minha vida. Não consigo estar parada por isso tudo o que me pedem digo que sim. Vivo de objetivos e movo montanhas para não falhar com os outros mas também comigo própria.  E isso implica um grande esforço meu, de muitas horas de sono mas também do tempo com os meus filhos.

Combinei comigo mesma sair às 17h do trabalho, tenho dias que consigo, outros que nem tanto e quando não consigo custa-me muito. Já chego a casa cansada, com pouca paciência e consequentemente com poucas horas de qualidade para os meus filhos.

A Constança na semana que passou sentiu a minha ausência, tive muito pouco presente, dei-lhe pouco da minha atenção e ela perdeu-se no vazio.

Por vezes não é preciso que os outros nos digam, também nós percebemos as nossas falhas e sentimos quando os nossos filhos não estão bem.

Senti-a mais impaciente e com "sede" dos meu braços, a prova disso eram as lágrimas que deitava assim que lhe tirava o meu colo.

O trabalho pode dar-nos muito mas ainda nos tira mais.

E quem disser que o papel de mãe e de profissional são compatíveis é porque deseja muito pouco para ambos os papéis porque é impossível estar a 100% nos dois lados.

É normal falharmos, não somos invencíveis do tempo e é preciso percebermos que uma mãe tem várias vidas dentro dela e que nem sempre conseguimos alcançar o equilíbrio em todos os nossos papéis.

Look Mum | Monkiki





1 comentário:

  1. Concordo plenamente, há dias que sinto que não tenho o tempo que queria para os meus filhos e por vezes fico triste comigo mesma...

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