Saudades suas

20.12.17
Escrevo-vos de lágrimas nos olhos, andava a adiar falar sobre a saída da terapeuta do T porque é um assunto que ainda me deixa triste e angustiada

Lembro-me como se fosse hoje quando recebi a notícia, estava em casa porque o Baby FM estava meio adoentado, veio ter comigo e pediu-me para ir ao quarto porque precisava de me mostrar uma coisa, não hesitei e lá fui mas a desconfiar que algo se passava, a sua voz não me tinha transmitido confiança, mas longe de pensar em tal coisa, achei que o T se estava a portar mal e que ela já não sabia o que fazer...

Quando chego ao quarto começa a chorar e eu sei saber o que fazer não consegui soltar uma palavra, fiquei perplexa, a ouvir o que me estava a dizer, sem reação. Não tive palavras, apenas lhe disse que jamais lhe cortaria as pernas e se ela quisesse muito ir abraçar outro projeto por mais que me custasse ela tinha a minha aprovação.

Fechei aquela porta e não contive as lágrimas, chorei até as lágrimas me secarem, liguei para o B a dar-lhe a notícia e tal como eu também ficou sem palavras mas como sempre disse-me que tudo iria ficar bem.

Naquele momento foi muito difícil digerir tudo e ainda o é.

Eu precisava (muito) dela e o T ainda mais. Onde é que eu ia arranjar uma terapeuta tão profissional, tão grande como ela? Como é que o T ia reagir? Como é que ia viver sem o meu braço direito e esquerdo?

Sempre que fazia estas perguntas, ficava sem respostas, e todo o meu positivismo passou a negativismo.

Uma coisa tinha como certa não ia ser fácil encontrar alguém tão dedicado, tão empenhado, que gostasse tanto de crianças como ela. E não me enganei... foram três meses angustiantes, e cada entrevista era como um murro no estômago...

A AF estava connosco desde os seus 4 meses, tinha acompanhado cada conquista, cada batalha, cada vitória, cada lágrima dele. Era a principal responsável por todo o seu desenvolvimento, era a ela que lhe pedia ajuda quando escolhia os brinquedos, era a ela que lhe pedia ajuda quando me sentia mais frágil, era ela que me ajudava a fazer a ponte com todas as terapeutas do T. Era ela que já sem saber como pertencia à nossa família.

Uma relação que extrapolou o profissionalismo, que foi feita com os maiores alicerces: confiança, carinho, respeito, amizade e dedicação.

Sei que nunca lhe faltei em nada mas ela também não. Ainda me lembro da primeira vez que a conheci, uma miúda confiante, sem medos, tímida e com um sorriso encantador, que se juntou a mim naquele momento para tomar o meu sonho como o dela. Mal sabíamos que a partir daquele dia seria um "Amor para a vida toda".

Desde que soube das suas intenções que foi como se fosse uma morte lenta, todos os dias era menos um dia na sua companhia.

No entanto ela prometeu-me que só iria no dia em que assegurasse alguém da sua confiança para o seu lugar, e assim foi, moveu mundos e fundos, desdobrado-se em entrevistas até que encontramos uma pessoa que nos pareceu que estaria à altura deste grande desafio.

Quando a descobrimos, a AF chorou, talvez fosse um sinal de que aquela pessoa seria a certa para tomar o seu lugar.

E desde aí até ir embora foi passar todo o programa de exercícios e terapias que o T fazia à nova terapeuta.

Sempre que as via juntas tinha uma sensação esquisita, era sinal que todos os dias a perdia mais um pouco.

Até que chegou o dia em que a minha porta se fechou, sabendo que no dia seguinte não se abriria para a receber.

Desde cedo que soube que não seria fácil mas nunca pensei que me custasse tanto. A nossa relação na verdade é muito forte e ao longo destes três anos criámos uma cumplicidade tão nossa, que deixou de ser preciso falarmos para sabermos o que a outra estava a pensar.

Neste momento já começamos com a nova terapeuta que também é um amor e muito dedicada, o que nos deixa mais tranquilos e apazigua todo este sofrimento.
Cada uma à sua maneira ocupa o seu lugar no nosso coração.

O T felizmente é uma criança super adaptável e embora tenha saudades da AF também já sente um carinho pela R.

Contudo sei que sente a sua falta e sempre que lhe falo da AF os seus olhos brilham na esperança de a ver a entrar por aquela porta.

Existem relações assim que não se explicam, sentem-se de tão fortes que são.






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