Educar com AMOR

21.2.18
Quantas palavras e gestos cabem na palavra amor? 
Qual a sua importância no desenvolvimento de uma criança? 
Que marcas deixa o afeto ou a falta dele? 
Quando nasce o amor dos pais pelos filhos?

Para muitos pais, nasce no momento em que descobrem que estão “grávidos”, para outros quando veem o bebé pela primeira vez, para outros está longe de ser um amor “à primeira vista”, sendo um sentimento que aparece com o tempo, e para muitos outros, nunca chega… Os filhos, de acordo com as suas características, são um espelho das experiências que vivenciam e que observam, respondendo aos estímulos que recebem dos pais ou dos seus cuidadores. Todas as crianças nascem com capacidade para amar e para viverem as suas relações com base no afeto, são elas que genuinamente nos remetem para a simplicidade da vida e da afetividade, contudo, nem sempre as suas vivências e contextos permitem que os alicerces da sua educação sejam o amor e o afeto. Há crianças que desconhecem a palavra amor, não no que diz respeito à sua ortografia, mas em relação à sua semântica. São braços e olhares tristes, vazios, perdidos e zangados, embora, muitas vezes tenham os quartos e os seus dias bastantes cheios e preenchidos.

Quando se começa a construir uma casa, parece evidente que a primeira coisa a fazer é colocar os alicerces e quanto mais fortes e consistentes forem, mais segura será a casa. Cada um de nós representa essa casa, o espaço que iremos habitar durante toda a nossa vida, em que os pais são os primeiros e principais arquitetos e construtores. Não interessa se são casas grandes ou pequenas, com piscina ou com jardim. O que importa é que sejam casas firmes e onde nos sentimos bem. Esse é o papel da educação na vida de uma criança.

Sabe-se que o afeto tem um papel determinante no desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, e que influência o seu nível de bem estar ao longo da vida. A demonstração de afeto começa ainda dentro da barriga da mãe, dependendo da forma como esta vivência a sua gravidez e com os sentimentos associados à gestação e à chegada de um filho. Se a mãe experienciar sentimentos de felicidade e de tranquilidade irá produzir serotonina e dopamina ou, se pelo contrário, sentir ansiedade e tristeza o seu ritmo cardíaco e a adrenalina em excesso irão chegar até ao bebé através do cordão umbilical. A voz e o tato são os primeiros sentidos a serem desenvolvidos e através dos quais os pais, familiares e amigos poderão comunicar e manifestar afeto ao bebé. Ainda que os bebés não decifrem as palavras, ou a memória possa não estar completamente desenvolvida, há indícios de que os bebés posteriormente reconhecem as vibrações sonoras de sons que ouviram enquanto estavam dentro da barriga da mãe e aos quais reagem positivamente.

A partir do momento em que o bebé nasce, poderão ser várias as manifestações de amor e de afeto: a satisfação das suas necessidades, o contacto físico através do toque e do colo, a expressão facial (sorrir), a interação com o bebé e a promoção de um ambiente calmo e harmonioso.

A importância do afeto nas primeiras etapas do desenvolvimento foi analisada numa experiência em 1963-1965 por um psicólogo, com macacos rhesus. Na sua experiência, o psicólogo criou duas mães artificiais de macacos rhesus: uma feita de arame e a outra feita igualmente de arame mas forrada com pano macio e felpudo. Harry Harlow observou que os macacos bebés preferiam claramente as “mães” mais confortáveis, revestidas com pano. Esta preferência mantinha-se independentemente de qual a mãe que fornecia o alimento, o que parece indicar que a necessidade afetiva poderá prevalecer relativamente à necessidade alimentar.

Ao longo do seu desenvolvimento, e de acordo com a faixa etária, o amor por um filho poderá traduzir-se em muitas outras palavras, gestos e atitudes dos pais para com os filhos que, posteriormente terão retorno na relação e na dinâmica familiar e no desenvolvimento socio emocional das crianças. Alguns gestos e hábitos da lista que se segue, poderão ser questionados pelos pais, que muitas vezes consideram que, por exemplo, a rigidez no que diz respeito às regras poderá não representar um ato de amor para com os seus filhos, contudo, a exigência do cumprimento das regras poderá dar tanta ou mais segurança a uma criança do que o colo de uma mãe quando o filho se magoou ou está doente.

A educação com base no afeto e no amor têm exatamente um único fim: o de contribuir para que as crianças sejam mais felizes, otimistas, afetivas, confiantes, seguras e capazes de construírem relações positivas e sólidas.



Pais que educam com afeto são capazes de:

  • Colocar-se no lugar da criança e ver o mundo através dos seus olhos;
  • Separar as suas necessidades, das necessidades dos seus filhos;
  • Aceitar os filhos como são, não os responsabilizando pelas expetativas que possam ter criado sobre eles;
  • Serem os “super heróis” que os filhos acham que eles são, mostrando-lhes que os super heróis também falham e sabem pedir desculpa;
  • Definir regras claras e alcançáveis e levá-las muito a sério;
  • Fazer da exceção à regra, uma exceção e não a regra;
  •  Utilizar a linguagem do coração: Falar sobre os seus próprios sentimentos, mostrando à criança que todos são importantes e válidos;
  • Contar as suas próprias histórias;
  • Perceber que as histórias são ainda melhores se forem contadas ao colo;
  • Incentivar os filhos a conseguir, em vez de fazer por eles;
  • Dizer-lhe o quanto se sentem orgulhosos pelos filhos que têm;
  • Valorizarem cada vitória e conquista dos filhos, por mais que seja uma obrigação sua;
  • Encontrar um equilíbrio entre o “Sim” ou o “Não” aos pedidos dos filhos;
  • Explicar-lhes que esperaram 9 meses para nascer, por isso também poderão esperar 5 minutos para sair da mesa;
  • Trocar o telemóvel ou o tablet por um baralho de cartas, um passeio ao ar livre ou uma boa conversa;
  • Saltar na cama com os filhos e divertir-se com eles;
  • Encontrar 30 minutos por dia para estar SÓ com eles;
  • Proporcionar aos filhos padrões de relações próximas (familiares e de amizade) positivas;
  •  Integrar o respeito, a paciência, a gratidão e a empatia nas suas ações;
  • Em cada dia, relembrar o valor de um abraço, de um bilhetinho ou um miminho escondido, de um “beijinho à esquimó”, de um olhar cúmplice, do som de uma gargalhada, de um “Gosto de ti até à lua…”.

E assim se constroem casas felizes…

Com regras e com amor,

A vossa psicóloga

Ana Trindade




Fotografia | Paxi 

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