O peso do futuro

26.3.19
A Trissomia eleva um grande amor mas em contrapartida traz alguns receios, inseguranças num futuro que tantas vezes parece longínquo.

Não perco tempo em pensar no futuro porque acredito que o futuro só se faz com o presente mas este existe e ainda é meio "confuso".

Não duvido e sou convicta quando digo que o T vai ter a sua vida independente de nós e dos irmãos, vai ter a sua casa, os seus amigos, as suas namoradas e como mãe sonho com o dia em que o deixarei no altar para que seja ele a construir a sua própria família.

Mas no meio disto tudo existem entrelinhas, e é importante que sejam pensadas, questionadas e debatidas por uma sociedade que se diz sábia.

E em jeito contraditório, é engraçado ver pais a lutarem diariamente para que os filhos tenham um bom desenvolvimento, para que estejam aptos a integrar o ensino regular para depois chegarem ao mercado de trabalho e não encontrarem portas abertas. São dados como incapazes quando fazem tanto ou melhor que os demais.

E em jeito de desabafo é isto que me inquieta. Como é que um ser humano tem o direito de acabar com o sonho de alguém só pelo seu preconceito?

É duro mas ainda é a realidade do nosso país e de muitos outros.

E depois além de portas fechadas, há quem as abra mas sem qualquer remuneração como se fosse algo solidário.

E eu aqui fico "louca". Como é possível terem alguém a trabalhar a custo zero só porque tem um cromossoma a mais ou um atraso no desenvolvimento (por mais ligeiro que seja)?

Não precisa de ser CEO de uma empresa, gestor, engenheiro ou economista, mas uma empresa não se faz do Top bem pelo contrário faz-se de baixo para cima, sem os cargos inferiores os cargos superiores por mais inteligentes que sejam não brilham. É preciso uma empregada de limpeza porque sem ela no dia seguinte ninguém consegue estar no meio de tanto lixo, são precisas secretárias para que os compromissos sejam compridos, são precisos estafetas para que as encomendas que o marketing destina sejam entregues a quem de direito.

São todos válidos, todos merecem o respeito de todos e o ordenado no fim do mês. E o ordenado é apenas a troca pelo trabalho prestado durante o mês.

Agora porque é que uma pessoa com Trissomia 21 não recebe pelo seu trabalho? Para mim é simples se a pessoa não for capaz a desempenhar o papel não pode continuar porque as penas só existem nas galinhas. Agora se a pessoa é capaz, traz valor acrescentado à empresa porque não deve ser paga com o valor justo para a função?

Isto é algo que vai contra todos os direitos humanos...mas que ainda existe nas sociedades que se dizem modernas.

É esta exclusão que faz com que as pessoas com Trissomia 21 sejam vistas como pessoas incapazes e que ficam a cargo dos pais para sempre. Um "não" sem fundamento, só mesmo pelo preconceito pode deitar por terra o sonho de uma pessoa e de uma família inteira. Mostrando assim o sabor amargo do que é ser-se diferente.

Cabe a nós fazer deste mundo melhor e aceitar o ser humano tal como ele é. Tudo o resto são teorias.







4 comentários:

  1. Acredito que as coisas estão a mudar Acredito que esta nova geração Down está a ser muito bem preparada para o futuro. Por outro lado, a sociedade começa a saber mais sobre o síndrome.Encontra um ou outro ao virar da esquina.tem a oportunidade de se relacionar com alguém com Down e a forma de os olhar também muda. Durante gerações estas pessoas foram escondidas da sociedade. Não podemos esquecer que também muitos pais abraçaram o preconceito e não conseguiram mostrar a sociedade o orgulho que tínham no Filho.Por isso acredito na mudança. Só não tou certa se será a geração dos nossos filhos a usufruir dela pleno.

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  2. Andreia concordo inteiramente com tudo o que foi dito...mas vou mais longe!! A sociedade dos dias de hoje diz-se moderna mas continua a discriminar salários entre homens e mulheres, continua a discriminar mães numa entrevista de emprego, continua a "engelhar" o nariz se a trabalhadora tem de faltar para prestar assistência a um filho doente ou porque tem uma doença crónica que mais uma vez a obrigou a uma intervenção cirúrgica... A sociedade discrimina todos os que saem dos seus parâmetros de "normalidade", seja lá o que isso for! Poderia identificar muitas mais situações injustas e discriminatórias...
    É urgente mudar mentalidades, ultrapassar preconceitos para que um dia possamos viver de bem connosco próprios e nos sentir felizes!

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